Eu queria que este livro tivesse orelhas

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Orelhas, para que vos quero?

Se Teleco, o coelhinho de Murilo Rubião, resolvesse se transformar em um livro, certamente seria neste. Ou, melhor dizendo, nestes livros, vários como as camadas de uma cebola ou os múltiplos níveis de um acidente geográfico. Assim preservaria seu misterioso caráter de pluralidade e curiosidade, essenciais para a compreensão da obra que tem em mãos.
Repare, leitor, nas imagens que se repetem: certo animal, certo algarismo, as circunstâncias em que eles aparecem e retornam na mesma direção, mas em sentido oposto. Como um palíndromo cifrado, a fixação que este orelhista divide com o autor orelhudo talvez tenha sido o ponto de partida para algumas das diabruras aqui trabalhadas. Preste atenção também nas escolhas léxicas, na alternância de vozes narrativas e na definição estilística de cada conto. Não é por falta de voz própria que o autor emula o enciclopedismo de Borges, o humor nonsense de Carroll, a reflexão de Woolf ou o tom fabular de Wu Cheng’em.
Aqui, nada é a aleatório. A ordem em que os contos aparecem, as idiossincrasias de personagens que se repetem, em alguns casos até mesmo o número de palavras em um parágrafo fazem parte de um projeto artístico bem definido. Não se esqueça de que a lei da vida é a ficção. Nada foi decidido enquanto se meditava entre os legumes.
Voltemos a Borges, que é o pai de tudo e todos. Talvez sua mais célebre frase seja aquela em que afirma se orgulhar mais dos livros que lera do que daqueles que escrevera. André Balbo leva a máxima ao extremo, homenageando os autores responsáveis pela sua formação com métodos pouco ortodoxos – e o plágio é só o mais tangível deles – ao mesmo tempo em que reserva à própria criação a condição de imperfeita, tão imperfeita que precisa de orelhas. Não estas em que escrevo, que só servem para distraí-lo enquanto o truque maior é feito.

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Descrição

Orelhas, para que vos quero?

Se Teleco, o coelhinho de Murilo Rubião, resolvesse se transformar em um livro, certamente seria neste. Ou, melhor dizendo, nestes livros, vários como as camadas de uma cebola ou os múltiplos níveis de um acidente geográfico. Assim preservaria seu misterioso caráter de pluralidade e curiosidade, essenciais para a compreensão da obra que tem em mãos.
Repare, leitor, nas imagens que se repetem: certo animal, certo algarismo, as circunstâncias em que eles aparecem e retornam na mesma direção, mas em sentido oposto. Como um palíndromo cifrado, a fixação que este orelhista divide com o autor orelhudo talvez tenha sido o ponto de partida para algumas das diabruras aqui trabalhadas. Preste atenção também nas escolhas léxicas, na alternância de vozes narrativas e na definição estilística de cada conto. Não é por falta de voz própria que o autor emula o enciclopedismo de Borges, o humor nonsense de Carroll, a reflexão de Woolf ou o tom fabular de Wu Cheng’em.
Aqui, nada é a aleatório. A ordem em que os contos aparecem, as idiossincrasias de personagens que se repetem, em alguns casos até mesmo o número de palavras em um parágrafo fazem parte de um projeto artístico bem definido. Não se esqueça de que a lei da vida é a ficção. Nada foi decidido enquanto se meditava entre os legumes.
Voltemos a Borges, que é o pai de tudo e todos. Talvez sua mais célebre frase seja aquela em que afirma se orgulhar mais dos livros que lera do que daqueles que escrevera. André Balbo leva a máxima ao extremo, homenageando os autores responsáveis pela sua formação com métodos pouco ortodoxos – e o plágio é só o mais tangível deles – ao mesmo tempo em que reserva à própria criação a condição de imperfeita, tão imperfeita que precisa de orelhas. Não estas em que escrevo, que só servem para distraí-lo enquanto o truque maior é feito.

Informação adicional

Peso0.23 kg
Dimensões16 × 2 × 11 cm

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