Mordaça

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Aos poemas e contos de André Ladeia aqui reunidos não cabe mordaça e, sim, mordacidade – não à toa palavras que privam do mesmo étimo latino. Entendido seja como um objeto com o qual se tapa a boca de alguém a fim de que não fale nem grite, seja como o ato de reprimir a liberdade de escrever ou de falar, o vocábulo que dá nome ao livro é contrariado semanticamente em cada um dos textos, que não se furtam a falar e a dizer e a se expressar – não propriamente de modo tagarela, como vem acontecendo ao falatório em que se transformou a cultura contemporânea. Na contramão da loquacidade automática com que somos bombardeados dia a dia, eles privam da eloquência quase inaudível dos que dizem o mínimo e mordiscam com esse pouco que proferem.
Os poemas, ainda que variem de extensão, aproximam-se do espírito da forma epigramática e corroem o bom-mocismo da norma culta, a previsibilidade de campos semânticos e lexicais e, para aderirmos ao discurso corrente, o lugar de fala da lírica. Já os contos constituem um caso sui generis, porque parecem nebulosas que explodiram a partir de uma célula mínima, em si também uma epigrama, ganhando, na expansão, uma densidade poeirenta e difusa – como convém a uma galáxia formada a partir dos escombros de uma estrela.
Um misto de discreta erudição e insinuante grossura perpassa o todo do livro, que – um tanto quanto épico, propensamente narrativo, algo trágico, no limite do satírico – convida o leitor a tirar a própria mordaça com os dentes da perplexidade e a remorder as palavras do autor. Sem remorso. Apenas com a inquietação que escorre da consciência – não nascida da culpa, e sim do crime que os poetas cometem contra a banalidade da vida e da linguagem do qual alguns são testemunhas e outros, cúmplices. Companheiros de cadafalso de André Ladeia, ao final da leitura, muitos de nós desejarão ser.

Welington Andrade
Doutor em literatura brasileira pela USP, professor da Faculdade Cásper Líbero e editor da revista Cult.

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Descrição

Aos poemas e contos de André Ladeia aqui reunidos não cabe mordaça e, sim, mordacidade – não à toa palavras que privam do mesmo étimo latino. Entendido seja como um objeto com o qual se tapa a boca de alguém a fim de que não fale nem grite, seja como o ato de reprimir a liberdade de escrever ou de falar, o vocábulo que dá nome ao livro é contrariado semanticamente em cada um dos textos, que não se furtam a falar e a dizer e a se expressar – não propriamente de modo tagarela, como vem acontecendo ao falatório em que se transformou a cultura contemporânea. Na contramão da loquacidade automática com que somos bombardeados dia a dia, eles privam da eloquência quase inaudível dos que dizem o mínimo e mordiscam com esse pouco que proferem.
Os poemas, ainda que variem de extensão, aproximam-se do espírito da forma epigramática e corroem o bom-mocismo da norma culta, a previsibilidade de campos semânticos e lexicais e, para aderirmos ao discurso corrente, o lugar de fala da lírica. Já os contos constituem um caso sui generis, porque parecem nebulosas que explodiram a partir de uma célula mínima, em si também uma epigrama, ganhando, na expansão, uma densidade poeirenta e difusa – como convém a uma galáxia formada a partir dos escombros de uma estrela.
Um misto de discreta erudição e insinuante grossura perpassa o todo do livro, que – um tanto quanto épico, propensamente narrativo, algo trágico, no limite do satírico – convida o leitor a tirar a própria mordaça com os dentes da perplexidade e a remorder as palavras do autor. Sem remorso. Apenas com a inquietação que escorre da consciência – não nascida da culpa, e sim do crime que os poetas cometem contra a banalidade da vida e da linguagem do qual alguns são testemunhas e outros, cúmplices. Companheiros de cadafalso de André Ladeia, ao final da leitura, muitos de nós desejarão ser.

Welington Andrade
Doutor em literatura brasileira pela USP, professor da Faculdade Cásper Líbero e editor da revista Cult.

Informação adicional

Peso0.23 kg
Dimensões16 × 2 × 11 cm

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